Coisas que um ninja me disse
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Suprematismo (1915), Kazimir Malevich |
Outro dia um ninja me disse uma porção de coisas. Duvido que ele seja mesmo ninja, mas como não há nada que prove o contrário, confio em sua palavra. É ninja.
Pois bem. Neste dia o ninja me disse que o segredo da serenidade era saber que o mundo à nossa volta não é o nosso mundo. "Eu tenho o meu mundo, que não é esse mundo aqui. Tente fazer o seguinte: quando for dormir, tente não pensar nas coisas que aconteceram no dia, pensar no que tem que ser feito, nada. Tente encontrar seu mundo."
Chorei. Era tudo o que eu precisava. Não pensar nas mazelas do mundo, nas desgraças. Saber que nada daquilo era meu, mesmo que eu sentisse que fosse. Mas então, o que era o meu mundo? Eu é quem? O que é Eu?
Eu é uma porção de pedaços. Os que eu escolho e os que eu não escolho, que vão colando em mim. Eu são as coisas que aprendi. As pessoas com quem convivi. Eu são boas e más lembranças. O que seria Eu sem as histórias que li, que me contaram? Eu é a cara de pessoas que amo e odeio ao olhar no espelho. Eu é moça sozinha, mulher casada, dona-de-casa, estudante, cult, caipira simplória e baile de favela vagando no mundo. É o gato de olho arregalado, que só confia em si. E o cão vadio, que anda sem rumo de cabeça erguida, confiante. Eu são astros, água, terra e fogo. Nessa ordem.
Será que em Eu há algo que seja realmente meu? Talvez Eu seja na realidade um grande nada. Um grande aberto. Mas um nada aberto não é necessariamente vazio. Nada não é oco, nem vácuo. Nada é alguma coisa.
Saberei quem sou no dia em que conseguir acessar esse lugar intocado, imaculado. Este aberto onde nada entra e nada sai; há só o verdadeiro de nós mesmos. Neste dia terei então conhecido a mim mesma. Branco no branco (1918), Tela de Kazimir Malevich |
Nossa! Que lindo! Tá chegando perto! Lao tsé já dizia : Tao é a Fonte do profundo silêncio. Que o uso jamais desgasta. É como uma vacuidade, origem de todas as plenitudes do mundo.
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